Os valores que nos oprimem
Cresci com a educação que muitas de nós recebemos, as mulheres deviam servir o homem...
7/21/20253 min ler


Cresci com a educação que muitas de nós recebemos: as mulheres deviam servir o homem, deviam cuidar da casa e dos filhos, mas também deviam ser independentes e trabalhar. A Virgindade era vista com algo precioso e deveria guardá-la para alguém especial.
Tocar, explorar, mexer, seria pecado!
Iniciei a minha vida sexual "cedo", mas com um enorme peso na consciência mas fi-lo por afirmação. Sentia que era uma maneira de marcar a transição de criança para adolescente, sentia que era uma maneira de me emancipar e de ganhar poder sobre mim e sobre o meu corpo, ainda que com o sentimento de que já não era pura. E se aquela pessoa não fosse para a vida? E se eu me arrependesse?
Como nunca me tinha tocado, nunca me tinha explorado... Entreguei o meu prazer nas mãos do outro, esperando que o outro soubesse o que eu queria, o que eu gostava. Mas nem eu sabia!
Sempre apreciei o corpo feminino. As mulheres são muito mais atraentes do que os homens e sempre tive essa curiosidade. Sabia que queria experimentar, mas não sabia como. Um dia, apareceu a pessoa certa e foi tudo muito natural. Ela era mais velha e mais experiente, e uma vez mais, entreguei-me nas mãos de alguém.
Senti uma explosão como até então nunca tinha sentido. Ela sabia, onde e como tocar.
Finalmente ERA ALI!
Desbloqueou-me novas formas de prazer, novos horizontes e novos limites.
Descobri o meu corpo, pelas mãos de alguém, descobri novas formas de prazer e descobri outra intensidade.
Mas, mais uma vez, entreguei o prazer nas mãos do outro. Ia com a maré, seguia o guião que ela escrevia. E por isso, não, não me deu mais poder, não me deu mais voz, nem autoconhecimento.
Em resumo e com ponderação, assumo que sempre tive um papel de entrega, de servir, de dar prazer.
Ter começado a minha vida sexual "cedo" fez com que eu não me conhecesse sozinha, não me explorasse... e essa fase do desenvolvimento é essencial. Ficou em falta durante muito tempo.
Quando fui mãe o meu corpo mudou muito.
Tive um parto que correu bem, mas que me deixou mazelas.
Esqueci-me quem era.
Voltei atrás, anos atrás, às crenças de que devia cuidar da família, da casa, dos filhos… Eu? Eu Desapareci.
Presa num corpo que não reconhecia, com cicatrizes visíveis e invisíveis que me reprimiam.
Tive de aprender a cuidar de mim, tive de me explorar e conhecer aos poucos os meus limites.
Foi aqui que ganhei voz.
Comecei a dizer: “Prefiro assim, não assado”.
“Esta posição não resulta para mim”
“Assim, sinto-me melhor”
Foi neste momento que comecei a priorizar o meu bem-estar, ainda antes do meu prazer. Foi também nesta altura que entraram os brinquedos sexuais. Já os tinha experimentado antes, mas não eram os certos e eu também não estava no momento certo para eles. Não tinha abertura suficiente, queria servir e dar prazer, não receber.
Por isso, ser mãe foi um ponto de viragem na minha vida sexual.
Sei que para muitas Mulheres é o fim, é o declínio, mas para mim, foi o renascer, foi recomeçar, foi priorizar-me e foi onde encontrei a minha voz!
Hoje, é verdade, que já não tenho as maminhas no sítio, como antes, tenho umas peles que não tinha...
O meu corpo já foi muito mais sexy, para os padrões de beleza de hoje em dia, contudo, nunca me senti tão bem e tão à vontade nele.
Descobrir-me, trouxe-me uma maior liberdade na minha vida sexual e na minha autoconfiança. Enquanto parceira acho que também mudei muito, uma mulher mais confiante e segura de si, entrego-me de maneira diferente. Com uma relação de vários anos, este redescobrir trouxe também uma nova dinâmica e melhorou bastante a nossa relação.
Enquanto mãe... Não é fácil estarmos a descobrir-nos e sermos mães ao mesmo tempo. Ser mãe fez-me rever toda a minha vida, fez-me reabrir feridas antigas e tratá-las. Ser mãe é o meu maior desafio. Quero dar o melhor de mim! E foi quando descobri que o melhor de mim só é possível se tratar de mim primeiro.
Estou a encontrar a minha voz e aos poucos consegui começar a dizer o que quero!
Não só no sexo, como na vida.
Deixei de entregar tudo nas mãos do outro. O Prazer é MEU! A vida é MINHA!
Ainda não acabei, ainda tenho dificuldade em deixar a vergonha e dizer abertamente tudo o que quero, mas tenho consciência de onde estou e de onde quero chegar.
O prazer não tem limites e podes sempre descobrir algo novo, basta que estejas aberta a tentar, pouco a pouco, passo a passo e ao teu ritmo. Começa a tua viagem, traça o teu caminho e VAI!
Os brinquedos sexuais não me tornaram promíscua.
Não fazem de mim uma oferecida.
Não são coisa de Mulher da vida…
São coisa de Mulher Com Vida!
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