Liderança feminina:

Confissões de quem já sentiu o peso do cargo...

9/23/20253 min ler

Liderança, palavra maioritariamente ligada ao sexo masculino. Felizmente o mundo está em constante evolução e já conseguimos encontrar muitas mulheres em cargos de liderança. Cargos em que precisamos de tomar decisões que envolvem dinheiro e pessoas.

Eu já assumi vários cargos de liderança e o que mais orgulho me deixou foi liderar 20 mulheres dos 18 aos 60 anos e conseguir fazer com que fossem fortes e tivessem sucesso. Liberdade e Responsabilidade são as duas palavras que me definem como lider. Sou livre e dou liberdade, sou responsável e exijo responsabilidade. Que duro é chegar e não falhar. São 20 mulheres e uma empresa que confiam em mim. Honestamente, chegar ao sucesso é maravilhoso, mas quando chega a fatura final custa pagar. Quando és mulher, a liderança traz uma lista de desafios que não estavam no contrato e muito menos no anúncio de emprego.

O estereótipo da “mandona”

Se sou direta, chamam-me agressiva. Se sou firme, dizem que sou fria. Já vi homens dizerem exatamente as mesmas coisas no mesmo tom que eu disse e receberem elogios pela sua objetividade. A mim chamaram-me “mandona”. A sério? Mandona. Como se tivesse regressado ao recreio da escola primária. Assertividade e firmeza só assim consigo ser ouvida.

A dupla jornada (sim, continuo a ser a gestora de casa)

Não interessa o cargo que eu ocupe na rua, continuo a ser aquela que se lembra da reunião às 9h mas também da mochila do miúdo às 8h. A vida profissional não suspende as expectativas da vida doméstica. Lidero equipas, sim, mas continuo a ser a líder invisível da logística familiar. E, acreditem, não há KPI que me salve do cansaço.

O fantasma da síndrome do impostor

E mesmo depois de todas as vitórias, confesso: já me perguntei se estava realmente preparada para estar onde estava. Já senti aquele frio na barriga que me sussurrava “vais falhar e vão perceber que não és boa o suficiente”. Só depois percebi que não era incapacidade, era a velha síndrome do impostor a fazer das suas. Um fantasma que assombra muitas mulheres em cargos de liderança.

Poucas referências, pouco apoio

Ainda hoje entro em reuniões onde sou a única mulher à mesa. Não é fácil. Não há muitas referências femininas nos cargos de topo e isso pesa. É como se estivéssemos sempre a abrir caminho. Para fazer valer uma ideia tenho de provar com factos, mil folhas de excel, colocar uma voz assertiva (lá vem a mandona) e provar que a minha ideia está certa e pode trazer frutos. Os meus colegas, mandam a ideia sem estrutura e argumentos e existe logo uma aceitação sem esforço.

Mas vale a pena?

Claro que falho e falhei muitas vezes, mas quando conseguimos, em equipa, a diferença sente-se. As equipas ganham novas perspetivas, as pessoas estão mais felizes, motivadas e concentradas. Uma líder no feminino é assertiva, delicada, compreensiva e vista como um exemplo. Dá à tua equipa tudo o que gostavas de receber. As pessoas estão a ver e tendencialmente vão seguir.

E agora, o mais importante

Se me estás a ler e já sentiste estes obstáculos, acredita: não és a única. Se já duvidaste de ti, já foste chamada de “mandona”, já carregaste o peso da dupla jornada, tiveste de gerir injustiças e mesmo assim continuaste… tu és prova viva de que a liderança feminina não é exceção, é realidade. Nós somos muito mais que um rosto bonito, somos inteligentes, assertivas, preocupadas e dedicadas. Somos o futuro e a esperança da sociedade.

E é por isso que precisamos de continuar. De ocupar cadeiras, de tomar decisões, de inspirar outras mulheres a acreditar que também podem. Porque cada passo nosso abre espaço para muitas mais.

No fim, a liderança feminina não é a penas sobre cargos.

É sobre voz, impacto e legado.

E esse, ninguém nos pode tirar.